Inteligência é adicionada às câmeras e os algoritmos de visão computacional detectam os riscos, antecipando as ações dos criminosos
Por Fernanda Ferreira
As câmeras de segurança estão em todos os lugares, porém se resumem a gravar o que acontece – ou no máximo são apresentadas em telas com várias imagens onde eventualmente são observadas por alguém com a ingrata missão de identificar um potencial risco. Isso se torna pouco efetivo à medida em que as imagens acabam sendo utilizadas para esclarecer situações e não para evitá-las.
Com o objetivo de mudar a forma que o mercado de segurança realiza esse monitoramento aos clientes finais, a C4i criou um serviço baseado um novo conceito que transforma o monitoramento comum em analítico, inteligente e sistêmico, agindo de forma preventiva e proativa visando proteção efetiva às pessoas e ativos.
Para falar mais sobre como essa solução funciona, conversamos com Alexandre Chaves, CEO da C4i Inteligência em Segurança.
Revista Segurança Eletrônica: A C4i tem uma proposta de monitoramento diferente do resto do mercado. Como funciona esse conceito?
Alexandre Chaves: Em geral o mercado segue os moldes americanos e europeus, cujos grandes provedores de monitoramento no Brasil são grupos estrangeiros e os pequenos monitoradores copiam esses modelos e prestam o mesmo tipo de serviço. Os serviços do monitoramento usuais se baseiam em receber um alerta após disparo do alarme para poder a partir disso tomar uma ação. A C4i faz um monitoramento baseado na imagem e não no alarme, nós adicionamos inteligência a essas câmeras. O interessante é que não temos o objetivo de fornecer câmeras ou DVRs, e na maioria das vezes utilizamos os equipamentos já existentes.
Esses algoritmos permitem que tenhamos um olhar diferente, não de “aconteceu algo, tenho que reagir”, mas sim de identificar na imagem comportamentos que podem trazer risco.
A partir disso eu consigo dizer para uma imagem que caso aconteça uma determinada atitude, o sistema deve nos notificar para tomarmos uma ação, então minha central passa a acompanhar isso de perto e a realizar ações preventivas, como exemplo acionar as equipes de campo/pronta resposta com as quais somamos força, pois entregamos um maior nível assertivo e ganhos de eficiência através de alertas mais precisos. Dessa forma nós nos antecipamos ao problema.
Revista Segurança Eletrônica: Poderia ilustrar como a solução funciona?
Alexandre Chaves: Eu gosto de exemplificar as coisas contando histórias reais. A C4i atende alguns nichos e o último que entrou foi o mercado residencial de alta renda. Ano passado eu me mudei de um apartamento para uma casa de rua para ser usuário da C4i. Minha intenção foi vivenciar aquilo que eu vendo, ser usuário do meu trabalho.
Comecei a utilizar o serviço e um dia a central de monitoramento ligou para minha esposa perguntando se ela estava esperando visita, e explicaram que havia um carro parado na frente da minha casa. A câmera identificou a mudança de comportamento, uma vez que a minha rua é apenas de passagem. Dentro desse tempo que o carro parou na frente da minha casa, o sistema já consultou a placa para verificar se era roubado, o analista já estava acompanhando a situação, acionado a pronta resposta e o guarda da rua para abordar a pessoa e tudo em estado de alerta para chamar a polícia, se fosse necessário.
No fim, a pessoa parou na frente da minha casa para atender ao telefone. Na ótica da C4i poderia ser uma pessoa mal-intencionada acompanhando o fluxo de entrada e saída da casa, esperando um momento de abordagem, ou seja, poderia ser um potencial risco.
Essa é a grande diferença do trabalho que a C4i faz, nós não esperamos tocar o alarme, alguém pular o muro ou precisar apertar o botão de pânico para começar a agir. Nós começamos a agir antes, com o uso de inteligência nas câmeras, essa é a nossa proposta. Importante deixar claro que além do mercado residencial – que foi o exemplo acima –, atendemos também ao mercado corporativo, predial e varejo.
Revista Segurança Eletrônica: Como vocês decidem o protocolo de segurança do cliente? É algo já pronto ou cada cliente tem um projeto personalizado?
Alexandre Chaves: Essa é uma das características da C4i, do nosso conceito, nós temos uma linha mestra em termos de tecnologia e protocolos de atendimento, mas cada cliente tem uma matriz operacional.
Nós montamos isso a quatro mãos: a C4i, o cliente e o gestor de segurança ou consultor que atende a família ou empresa. Para cada cliente são estabelecidos quais os níveis de serviço e as observações e particularidades que cada local tem. Nós não acreditamos naquele conceito embalado de vender caixinhas: cada família, cada empresa, cada segmento tem particularidades diferentes uns dos outros. Nós acreditamos muito que cada um merece ter o entendimento de saber quais os pontos que podem eventualmente levar algum tipo de risco para aquele projeto.
Revista Segurança Eletrônica: A C4i está há quanto tempo no mercado?
Alexandre Chaves: Estamos há 4 anos no mercado, conquistamos clientes importantes nos segmentos de varejo, logística, financeiro, torres comerciais, residências de alta renda – a partir de um trabalho de prospecção ativa. Recentemente decidimos divulgar nosso trabalho de forma mais massiva, para que as pessoas possam conhecer e entender como podemos ajudá-las a ter um nível de segurança mais elevado.
Queremos que as pessoas entendam as nossas crenças. Temos hoje disponíveis no mercado muitas empresas que querem fazer tudo e não gostamos desse conceito de clínico geral. Nós nos posicionamos como especialistas em um pedaço do processo, que é o monitoramento. Nós não queremos fornecer câmera porque entendemos que fornecer equipamentos e mantê-los é o trabalho de integrador. Também não fazemos a consultoria, porque quem faz é consultor. Nós focamos em fazer o monitoramento.
Por nos posicionarmos dessa forma temos uma estrutura muito dinâmica: não precisamos vender câmera para o cliente, adicionamos inteligência no legado de equipamentos que ele já possui. Esse processo é muito bom para o cliente porque ele não tem que dispender qualquer tipo de investimento para poder ter o trabalho da C4i.
Outro ponto importante que difere o nosso trabalho e novamente vamos exemplificar através do mercado residencial de alta renda é que se eu tiver um potencial risco do lado de fora da casa, eu não quero que esse meliante chegue perto nem do meu muro. Se houver uma pessoa mal-intencionada, uma situação suspeita, a solução da C4i é capaz de identificar o potencial risco e avisar a família. O nosso serviço é capaz de trazer esse tipo de alerta.
Outro dia vi uma propaganda que fiquei chocado: era uma solução que ouvia a conversa de dentro da casa da pessoa, depois que acionava o botão de pânico, com o bandido dentro da residência. Achei um absurdo. Por que eu quero ouvir isso? Já pegaram a família. Não é para ele chegar perto da calçada, quanto mais invadir a casa.
Revista Segurança Eletrônica: Vocês não se consideram integradores e nem consultores de segurança. Como vocês se definem?
Alexandre Chaves: Nós ainda não nos enquadramos em nenhuma caixinha existente. Eu não sou integrador, não faço fornecimento de mão de obra e não somos faz-tudo. Nós estamos nos posicionando como especialistas, e quando chamamos de monitoramento inteligente, o inteligente é porque entendemos que para ser preventivo, precisamos ativar a camada de inteligência. Todo mundo tem o conceito de monitoramento com a câmera gravando e isso só serve para assistir a autópsia do problema. Você não está prevenindo nada, só está gravando a ocorrência para poder assistir depois. E o que nós fazemos é justamente não deixar o incidente acontecer. É por isso que somos disruptivos, pois temos uma proposta de evitar o problema. Em muitos casos, por incrível que pareça, as empresas só percebem que estão com problemas na gravação e armazenamento das imagens quando acontece uma ocorrência e percebem que em algum momento o sistema parou de funcionar.
Revista Segurança Eletrônica: Vocês guardam as imagens do monitoramento?
Alexandre Chaves: Todas as imagens que fazem parte do nosso trabalho recebem uma cópia gravada e criptografada na nuvem para garantir a integridade daquela informação. Não é possível apagar os dados e não tem como não estar disponível, seja para seguradora, polícia, etc.
Revista Segurança Eletrônica: Vocês deixam disponível essas imagens na nuvem por quanto tempo?
Alexandre Chaves: Nosso tempo é modelado, pode ser 7, 15, 30 dias, mas temos clientes que acordamos gravar durante 5 anos. Fazemos de acordo com o tempo que o cliente precisar.
Revista Segurança Eletrônica: A C4i possui alguma taxa de erro, ou seja, existe a possibilidade de algo passar despercebido e infelizmente a ocorrência acontecer?
Alexandre Chaves: Nós somos muito exigentes, então se algo for demandado para nós que não seja possível entregarmos, não começamos.
Existiram alguns poucos casos ao longo do tempo que demandava uma determinada situação, com um determinado nível, e nós – por termos alguma situação física, técnica, link – declinamos. Temos um mantra que é: ou começa certo ou não começa. O que pode limitar o nosso trabalho quase sempre são fatores que dependem mais do cliente do que nós, por exemplo, falhas nos equipamentos, câmeras posicionadas de forma incorreta, capacidade do link e etc.
Quem visita a nossa central fica encantado, porque você não vê pessoas olhando câmeras, quem faz esse papel de olhar a imagem é a máquina, nós automatizamos uma etapa do processo. E aquele ser humano que deveria estar olhando as imagens, “procurando agulhas em palheiro”, nós fazemos com que se desenvolva e fique capacitado para fazer aquilo que a máquina não consegue, que é empenhar todos os esforços para tomar as ações necessárias, nas mais diversas condições de criticidade – mesmo que desconhecidas até então.
Por isso falamos da importância de ter caixinhas separadas. Você traz um bom especialista para instalar as câmeras e mantê-las, outro para analisar o projeto, outro para fornecer pessoas e um especialista para fazer monitoramento.
Revista Segurança Eletrônica: Caso o cliente ainda não tenha equipamentos de segurança instalados, vocês possuem parceiros que realizam essa parte do projeto?
Alexandre Chaves: Sim, quando os clientes solicitam essa demanda de equipamentos, a nossa orientação natural é que o cliente contrate alguém, e inevitavelmente somos provocados a indicar. Por isso, estamos expandindo nosso programa de canais e parceiros, convidando integradores, instaladores, fabricantes, consultores do mercado em geral a serem parte da nossa família, todos são muito bem-vindos.
Revista Segurança Eletrônica: Em quais regiões vocês atuam?
Alexandre Chaves: Nós atuamos em todo o Brasil, mas hoje não tem nada que nos impeça de fazer com que nossa proposta de valor seja global. A conectividade melhorou no Brasil e no mundo inteiro, não temos fronteiras hoje.
Inicialmente a nossa ideia é fazer esse processo de expansão. Já temos clientes hoje em 25 estados no Brasil e já temos proposta em andamento para a América Latina.
Revista Segurança Eletrônica: Atualmente vocês atuam em 4 vertentes: varejo, corporativo, condomínio e residencial. Poderia explicar como funciona o monitoramento inteligente nesses nichos?
Alexandre Chaves: Para cada segmento nós podemos ter uma aplicação voltada para solucionar as dores dos clientes. No varejo eu posso identificar alguém parado do lado de fora que pode ser um potencial criminoso estudando a área e se preparando para arrombar a porta, mas também ao longo da jornada posso ajudar o cliente com a questão da operação dele, como a área de marketing. Aquela mesma câmera que verifica se a porta foi ou não violada também pode contar o número de pessoas que entram na loja. Também posso observar situações de formação de filas com a mesma câmera, não preciso ter diversos equipamentos direcionados para apenas uma função. É possível ter uma câmera com vários olhares. A segurança, dessa forma, passa a ser uma porta de entrada para que possamos agregar às câmeras inteligência que impacte em outras áreas estratégicas.
Começamos a fazer o monitoramento inteligente para sanar as dores do varejo, depois estendemos os demais mercados que em geral possuem centrais de monitoramento internas, e hoje – quando possível – conseguimos até retirar as salas de monitoramento de dentro das empresas, porque esse trabalho pode ser feito remotamente com o uso de inteligência e uma camada 24 horas x 7 dias por semana.
A nossa proposta é adicionar inteligência, garantir que o processo seja mais preventivo e que todo ele possa acontecer remoto ou local.